2.6.09

Falta de planejamento: esgoto transborda em Águas Claras

Cidade vive hoje um dos primeiros reflexos da explosão demográfica. Rede de saneamento não dá conta do fluxo de água, contaminando afluentes do Paranoá e prejudicando produtores da região

O crescimento demográfico em Águas Claras não prejudica somente o trânsito. A rede de esgoto também está com a capacidade saturada devido ao inchaço populacional. Num determinado momento do dia, quando há mais pessoas em casa, o fluxo de água suja aumenta e transborda em três córregos que são afluentes da bacia do Lago Paranoá. Pequenos agricultores também são afetados pela contaminação das reservas, pois não podem mais irrigar sua plantação com a água delas.


O esgoto cai diretamente no fim do Vereda da Cruz, que passa por Águas Claras. Em seguida, a água suja contamina outras três reservas: Samambaia, Riacho Fundo, além do Lago Paranoá. O mais atingido é o Córrego Samambaia. Ele se estende pelo Park Way e Guará antes de desembocar no Lago Paranoá. Além disso, o Córrego Samambaia é o responsável pela irrigação da lavoura de 16 chácaras do Setor Rural Remanescente Vereda da Cruz, situado no Park Way.

Dona de uma chácara no Vereda da Cruz, Maria do Céu Silva Matos, 63 anos, alimentou-se durante 37 anos do que era plantado em sua terra. Mas, nos últimos quatro anos, quando começou esse problema, ela acabou com a horta porque a principal fonte de água responsável pela irrigação das plantações de feijão, milho e banana está contaminada com água de esgoto. “Não temos mais horta em nossa chácara”, lamenta ela. “É um crime ambiental e cometido por nada menos que um órgão do governo”, atacou o presidente da Associação dos Moradores de Águas Claras, José Júlio de Oliveira.

Nos últimos 15 meses, foram incorporadas à rede de esgoto de Águas Claras 10 mil novas ligações. Elas conduzem a água suja das residências até a estação elevatória da cidade, responsável pelo armazenamento dos dejetos. A estação elevatória fica ao lado do viaduto do Metrô-DF, à margem da rodovia DF-079, entre o Guará e o Park Way. O aumento causou uma sobrecarga no sistema de esgotamento sanitário, o que faz com que a água contaminada transborde para os córregos.

Os moradores e funcionários de condomínios em Águas Claras também têm sua parcela de culpa. Segundo a Caesb, algumas pessoas lançam a chamada água de subsolo — água acumulada em garagens e apartamentos — na rede de esgoto. “Em vez de eles a empurrarem para a galeria de águas pluviais, despejam-na na rede de esgoto”, explicou o superintendente de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Caesb, Maurício Luduvice. Os dois fatores, combinados com o horário em que há o maior número de pessoas em casa, são os responsáveis pelo transbordamento do esgoto. Segundo Maurício, isso ocorre geralmente entre 11h e 15h.

Análises
Técnicos do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) estiveram no local em março, colheram amostras da água suja e constataram o crime ambiental. O órgão notificou a Caesb para solucionar o problema. Caso a companhia não cumpra a exigência, pode ser multada. O Ibram, porém, não informou o valor da multa e nem o prazo que o outro órgão tem para acabar com a poluição dos três córregos e do lago.

A Caesb explica que tem feito ações para combater a prática ilegal cometida pelos moradores. Uma das medidas é a aplicação de multa para quem lançar água de subsolo na rede coletora de esgoto. Outra será a construção de um tanque de equalização na atual estação elevatória. “Ele vai reter a água excedente no horário de pico para ser bombeada de madrugada para a estação de tratamento de esgoto da Asa Sul, quando o fluxo diminui”, explicou Maurício.

Fonte: Correio Braziliense

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