Responsável pela regulação e fiscalização do setor elétrico no país, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu dar o exemplo e criou um projeto de eficiência dentro de casa. Inaugurou, nesta terça-feira (26/06), uma usina fotovoltaica de microgeração distribuída, que terá geração anual entre 650 megawatts/hora (MWh) e 800 MWh, numa média de 710 MWh/ano.
O objetivo é atender entre 18% e 20% do consumo anual da autarquia. O investimento desta etapa é da ordem de R$ 1,8 milhão. Outras fases do projeto pretendem reduzir o consumo em iluminação e climatização, mas ainda estão em implementação e licitação, respectivamente.
A usina fotovoltaica conta com 1.760 painéis de 1,65m2, com potência instalada de 510,40 quilowatts-pico (kWp), que foram dispostos de forma a otimizar o aproveitamento do sol e evitar áreas sombreadas das edificações. A área total ocupada pelos módulos e acessos será de 3.580 m2.
A realização do projeto de eficiência energética com a instalação da usina foi possível graças à inclusão da obra dentro do Projeto de Eficiência Energética (PEE) da Companhia Energética de Brasília (CEB). O contrato adota o seguinte ciclo: a CEB aplica o dinheiro do PEE na usina solar da Aneel e, à medida que a usina gera energia, a fatura da autarquia diminui.
A agência continuará pagando o restante da fatura até amortizar todo o investimento e, quando o dinheiro voltar para a CEB, será aplicado em outros projetos de eficiência energética, com retorno para todos os consumidores atendidos pela distribuidora.
Estímulo ao mercado
O prédio da Aneel tem três blocos e a energia da usina solar já está sendo produzida em um deles. A previsão é que os demais gerem até o fim de julho. O projeto contou com o apoio da consultoria alemã Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeite (GIZ).
Florian Geyer, coordenador de Planejamento Energético e Gestão do Sistema GIZ, afirmou que, com o pioneirismo da Aneel, o projeto terá a função importante de estimular o mercado de energia solar fotovoltaica no país. “O Brasil tem um potencial enorme. Comparando: o lugar com menos sol, que é Florianópolis, ainda tem 20% a mais de irradiação solar do que o lugar com mais sol da Alemanha”, disse.
Alexandra de Albuquerque Maciel, coordenadora do departamento de Políticas e Mudanças do Clima do Ministério do Meio Ambiente, destacou que a pasta participou do processo. “É uma iniciativa promissora, porque é a primeira fase de um projeto maior. A Aneel, junto com a CEB, iniciou o uso de contrato de desempenho energético no setor público, que pode viabilizar a integração de fontes renováveis distribuídas nas demais edificações públicas”, assinalou.
Para o diretor da Aneel Rodrigo Limp, a iniciativa visa a sustentabilidade do setor com uso eficiente e racional da energia. “Além da usina, estamos modernizando a iluminação e climatização, com redução de 47% no consumo de luzes e 35%, no ar condicionado, com redução de gastos públicos”, apontou.
O diretor da Aneel Tiago de Barros Correia ressaltou que, colocar o projeto em pé, foi complicado. “Foi a primeira vez que uma instituição pública usou a modalidade por desempenho. Deu uma certa dor de cabeça. A parceria com a CEB foi difícil, mas conseguimos. Tivemos dificuldades até em lançar o pagamento no sistema contábil do poder público”, alertou.
A grande vantagem do contrato por desempenho, ressaltou Correia, é que devolve os recursos para o sistema. “Se cria um mercado sem buscar recursos a fundo perdido”, explicou. “Talvez daqui a dois ou três anos, a gente possa dizer que existe um mercado de eficiência energética que não dependerá de ações como essa, de fomento”, acrescentou.
André Pepitone de Nóbrega, diretor da Aneel, lembrou que o programa ainda é incipiente. “São 80 milhões de unidades consumidoras no país e apenas 40 mil com geração distribuída. São 167 mil megawatts (MW) instalados no país, somente 360 MW de geração distribuída. Então, o universo é muito grande para avançar”, avaliou.
O diretor geral da Aneel, Romeu Rufino, reiterou a vantagem da modalidade de projeto de desempenho. “É absolutamente sustentável”, resumiu. Segundo ele, a Aneel, como instituição pública, teve desafios para fazer o registro contábil. “Tivemos interações com os órgãos controle para vencer barreiras, porque a legislação não é customizada para uma situação dessa, mas evidentemente não podemos enxergar nisso uma barreira”, afirmou. “A Aneel, sendo pioneira e sendo bem-sucedida, será um exemplo a ser seguido”, completou.
Fonte: Correio Braziliense / Aneel
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