9.6.12

Expansão urbana ameaça Lago Paranoá, que já perdeu 15% do volume total


O Lago Paranoá ameniza a baixa umidade, proporciona lazer aos brasilienses e ainda é uma fonte de sobrevivência para pescadores. Apesar da enorme importância do espelho d´ água para a vida na capital federal, o reservatório artificial sofre um processo acelerado de assoreamento, o que pode comprometer a qualidade da água e até mesmo os diversos usos do lago. Desde a sua criação, o Paranoá perdeu 15% do volume total, segundo estimativas da Secretaria de Meio Ambiente.

A expansão urbana sem controle é uma das causas do problema. Mas até mesmo a construção de bairros planejados, como o Setor Noroeste, contribui para o carregamento de sedimentos para o espelho d´ água. Parte da terra retirada do solo para a construção de garagens subterrâneas, por exemplo, acaba no lago. Próximo à Ponte do Braguetto, no fim da Asa Norte, é possível ver os efeitos negativos: o lago está cada vez mais raso, e a água, mais escura e lamacenta.

No Setor Noroeste, a falta de controle da terra removida durante a construção dos edifícios preocupa o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que, no mês passado, embargou todas as obras do bairro por conta desse problema. Mas as obras nunca pararam. Além de chegar ao reservatório por meio das redes de águas pluviais, essa terra também acaba arrastada até o Ribeirão Bananal, um dos mais importantes afluentes do Paranoá. A gravidade do problema é reconhecida até mesmo dentro do GDF, responsável pelas obras do conjunto habitacional.

O Correio teve acesso a um relatório da Caesb que trata sobre o assunto. Segundo o documento oficial, foi verificado um grande crescimento da área assoreada, com a consolidação da vegetação em uma larga faixa antes ocupada pelo lago, ao lado do local de descarga de águas pluviais provenientes do Setor Habitacional Noroeste. Essa alteração, em um espaço de tempo em torno de um ano, mostra o preocupante processo de assoreamento do braço norte do Lago Paranoá com o início das obras do Noroeste, complementa o relatório.
O superintendente de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Caesb, Maurício Luduvice, conta que o processo acelerado de assoreamento, tanto no braço do Riacho Fundo quanto na região norte do lago, chama a atenção. Segundo ele, esse processo pode comprometer o lago e atrapalhar o uso múltiplo, como a navegação e a recreação. Hoje, temos licença de instalação para fazer a captação de água no Ribeirão Bananal, mas o assoreamento pode comprometer o trabalho. A massa líquida do lago está sendo reduzida, afirma Maurício.

Ele alerta para a importância de aumentar o controle da movimentação de terra nas obras espalhadas pela cidade. Com a retirada de cobertura vegetal, o solo fica exposto, e a água da chuva acaba carregando o material para o lago. Temos alertado para o problema causado pelas obras próximas ao braço norte, não somente as do Setor Noroeste, mas todas as outras. É preciso ter cuidado para evitar o carregamento do material sedimentado porque ele vai parar dentro da bacia do Lago Paranoá, que é o receptor de todas as águas pluviais, acrescenta Luduvice.

"Mais lamacenta"

O Ministério Público do DF e Territórios acompanha com preocupação as discussões sobre o caso. Para o órgão, o problema foi agravado porque a construção de prédios e da infraestrutura do Noroeste foi autorizada antes da conclusão do sistema de drenagem da área. A promotora de Defesa da Ordem Urbanística, Marisa Isar, teve acesso a levantamentos que mostram que a implantação do setor causou no Lago Paranoá, em um ano, impacto equivalente a 50 anos de depósito de material em suspensão nesse corpo hídrico. Segundo nota enviada ao Correio pela promotora, o MP entende que é inadmissível que o Setor Noroeste, apresentado como um bairro ecológico e sustentável, cause impacto tão grande ao meio ambiente e à qualidade de vida da sociedade.

Conheça também o Relatório de Impacto Ambiental – RIMA do Sistema Produtor de Água com Captação no Ribeirão Bananal, afluente do Lago Paranoá (Caesb, 2011) clique aqui 


Fonte: Correio Braziliense / Caesb

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