Projeto leva garis, ambientalista e alunos para aula sobre sobre ecologia e descarte correto do lixo numa embarcação
Na manhã de ontem (30/4), 50 estudantes trocaram as paredes da escola por um
barco feito de sala de aula. Durante um tour pelo Lago Paranoá, saindo
do Parque Ecológico Ermida Dom Bosco, estudantes do Centro de Ensino
Fundamental Zilda Arns, do Itapoã, e filhos de garis aprenderam sobre
preservação ambiental, o descarte correto do lixo e curiosidades sobre o
Lago Paranoá.As consequências para o ambiente quando o lixo é jogado na
rua ou nas águas também foram abordadas. Os palestrantes foram os garis
Aécio Barros e Cida Neves e o ambientalista Luiz Rios.
Barros
explicou aos estudantes como é o trabalho dele e falou sobre a
importância da coleta seletiva e do acondicionamento correto dos
detritos. "Para descartar um espetinho, basta colocá-lo numa garrafa
plástica que sempre tem em casa. Assim, não machuca a mão do gari quando
ele for pegar o lixo. No caso das seringas, é a mesma coisa: tire a
agulha, tampe e coloque numa garrafa PET", orienta. O descarte do vidro
também tem uma indicação. "Para que o catador não se corte, embrulhe num
papel e depois coloque numa caixa, que pode ser de sapato".
"Normalmente,
a mãe ou pai das crianças faz o descarte do lixo, mas elas podem
instruir os próprios pais com o que aprenderam", acredita. Com o
ambientalista Luiz Rios, as crianças descobriram como é a cadeia
alimentar das águas, observaram micro-organismos presentes no lago num
microscópio e descobriram quais áreas do lago são boas para banho e
quais não. "A preservação se faz nas pequenas coisas. Até um chiclete
pode matar um animal. O lago é um local para aproveitar, por isso,
precisa ser bem cuidado".
Segundo o ambientalista, a preservação
do lago passará a ser ainda mais importante porque a Companhia de
Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) vai passar a coletar
água do Paranoá para o consumo no DF em 2016. "Ecolocia se faz com
pequenos atos, evitando desperdício, separando lixo, não jogando lixo no
chão e no lago. A responsabilidade está nas nossas mãos", completa
Rios.
Aprendizado prático
Para a maior parte dos
estudantes, essa foi a primeira vez numa embarcação. A bela paisagem, a
sensação do vento no rosto e o fato de navegar tornam o aprendizado mais
interessante e, até, inesquecível. Depois de absorver conhecimentos e
de um lanche, o passeio é finalizado com um juramento das crianças, que
se comprometem a cuidar do meio ambiente.
A professora de
ciências Giselle de Oliveira, 33 anos, garante que aprender fora da
escola faz diferença. "Tirá-los da sala de aula e trazê-los para a
realidade é muito importante. Assim, os alunos são estimulados a aplicar
os ensinamentos no dia a dia. Eles ficaram muito animados só de saber
que entrariam num barco", conta. Cleyson de Oliveira, 25, professor de
ciências, também vê vantagens para o ensino. "Sempre tratamos o tema da
sustentabilidade em sala de aula, mas, agora, colocamos uma imagem real
na cabeça deles sobre o assunto. Os que vieram aqui hoje são os melhores
alunos, foram escolhidos a dedo, já que não havia espaço para todos",
conta.
A animação com o passeio fez com que meninos e meninas
prestassem atenção aos ensinamentos. Roosevelt Thairony, 10 anos,
pensava que, para jogar vidro fora, bastava colocar numa sacola, mas
descobriu que estava enganado. "Tem que enrolar o vidro num papel e
colocar numa caixa de sapato, para que o gari não se machuque ou se
corte. Vou aplicar tudo o que aprendi aqui e ainda vou dar dicas para os
meus pais fazerem lá em casa", garante. Raquel Belo, 12, ficou surpresa
com os ensinamentos. "Eu nunca tinha parado para pensar sobre como
descartar o lixo. Para não poluir e para não machucar os garis, é
preciso ter mais atenção".
"Reciclar, separar o lixo e
descartá-lo corretamente também é importante para a preservação do Lago
Paranoá que, em algumas partes, pode ter até 40 metros de profundidade",
conta Thierry Santos, 13 anos, sobre uma das lições que aprendeu.
Acostumado a nadar no lago, em locais como a Ermida Dom Bosco, ele
descobriu quais áreas são próprias para banho e quais não. "O
ambientalista mostrou que tem áreas em que a água do lago é até potável.
Fiquei mais tranquilo de saber que a água aqui na Ermida, por exemplo, é
boa para tomar banho. Só tenho que ficar atento para não ir nos pontos
poluídos".
Filhos de um gari, Anderson Diogo Costa, 13 anos, e Kevin Moreira, 7,
disseram já saber tudo o que foi ensinado no passeio de barco. "Meu pai é
gari e me ensinou tudo sobre o descarte. Eu já sabia que, para jogar
palito fora, o ideal é colocar dentro de garrafa PET e que o vidro deve
ser embrulhado num papel. Meu pai corre riscos no trabalho dele porque
as pessoas não jogam o lixo fora da maneira que deveriam. Ele pode se
cortar com vidro, por exemplo, e, nesses casos, ele lava com água e com
álcool. Por isso, é importante aprender e fazer do jeito certo", afirma
Anderson.
Pelo meio ambiente e pelos garis
A
iniciativa é da Sustentare Serviços Ambientais, responsável pela coleta
em 17 regiões administrativas do Distrito Federal. O projeto Sustentare
pela Sustentabilidade prevê 10 passeios de barco educativos com duração
de 2 horas cada até dezembro. Essa foi a terceira aula, e a primeira
ocorreu em fevereiro. O projeto deve levar conscientização para 500
crianças de 10 a 14 anos, acompanhadas por monitores e professores. Os
garis que transmitem conhecimento aos estudantes passaram, antes, por um
treinamento interno sobre gestão ambiental e outros conteúdos.
O
objetivo, além de ensinar sobre sustentabilidade e cuidado com o meio
ambiente, é evitar acidentes de trabalho para catadores e varredores por
meio do incentivo ao acondicionamento correto do lixo. Mensalmente,
cerca de sete garis da empresa se machucam com cortes de cacos de
vidros, perfurações de espetos de churrasco e agulhas, o que gera riscos
de contaminação.
"A educação, dentro de casa, partindo de uma
criança tem um peso maior. A ideia é que elas façam a correção de pais e
irmãos quando observarem algo errado. Os alunos se empolgam e disputam
para responder perguntas durante o passeio. Percebemos que eles entendem
a importância dos ensinamentos e ficam empolgados porque, além de ser
uma aula, é um passeio de barco. É isso o que nos move e mostra que
estamos fazendo a coisa certa", afirma Williani Carvalho, coordenadora
de projetos da Sustentare, explica. A previsão é que o projeto-piloto
iniciado no DF este ano seja continuado em 2015.
O barco
utilizado no projeto é de Darse Lima, do projeto Mar de Brasília, criado
há três anos. "Já levamos 5 mil alunos para aulas no Lago Paranoá. Esse
barco foi todo equipado para ser feito de aula de aula. Faz muita
diferença porque as crianças passam a se sentir, junto com as famílias,
responsáveis pela preservação ambiental", afirma.
Para participar
Colégios
públicos e particulares interessados no projeto podem entrar em contato
pelo telefone (61) 3224-2161 para se inscrever. Até o momento, há 55 escolas
inscritas. As que não puderem ser atendidas esse ano, entram na lista
de espera para o próximo.
Palavra de especialista // O futuro do lago
A
pior época do Lago Paranoá foi nas décadas de 1970 e 1980, quando a
água era turva e fedia por causa da poluição e da grande quantidade de
algas. A partir de 1993, a água começou a melhorar por causa de uma
fiscalização mais severa de esgotos clandestinos. Em 2000, camadas de
água mais carregadas foram despejadas no Rio Paranoá, que, por causa da
correnteza, tem uma capacidade melhor de assimilação da poluição. O
resultado é que, a cada ano, a água do Lago Paranoá fica melhor. Nosso
lago é conhecido no mundo inteiro por estudiosos por ser o único lago
tropical que teve seu processo de poluição revertido. Hoje, tem uma boa
qualidade e os brasilienses estão se apropriando e valorizando mais
essas águas. Um estudo demonstrou que, em 20 anos, não teremos mais água
suficiente para abastecer o DF. Foram levantadas três possibilidades de
abastecimento: Lago Paranoá, São Bartolomeu e Rio Corumbá 4. O lago é a
opção mais barata e de melhor qualidade de água. A partir de 2016, uma
estação de bombeamento de água vai ser instalada no lago. Vamos passar a
depender da água dali, que vai abastecer 600 mil famílias de Lago Sul,
condomínios e Sobradinho. Por isso, a preservação dessas águas vai ser
ainda mais crucial porque vamos beber dela. É preciso mudar a visão das
crianças para que elas valorizem a riqueza que temos. A sobrevivência de
Brasília depende da qualidade da água do lago.
Luiz Rios, ambientalista do projeto Mar de Brasília
Fonte: Correio Braziliense
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